Tuesday, December 27, 2005

Um breve contacto com o Orientalismo

“O que deu errado? Por muito tempo pessoas no mundo islâmico, especialmente mas não apenas no Oriente Médio, vêm fazendo esta pergunta. O conteúdo e a formulação da pergunta que fazem, provocada principalmente por seu embate com o Ocidente, variam enormemente de acordo com as circunstâncias, a extensão e a duração desse embate e com as ocorrências que primeiro as tornaram conscientes, por comparação, de que nem tudo ia bem em sua própria sociedade. Mas, sejam quais forem a forma e a maneira da pergunta e as respostas que ela evoca, é impossível deixar de reconhecer a angústia crescente, a urgência cada vez maior e, nos últimos tempos, a ira feroz com que tanto a pergunta quanto a resposta são expressas”¹ (p. 7)

Grande era a minha vontade de ler algo sobre o Oriente Médio. Maior que ela, a minha ignorância no assunto. Maior que minha ignorância, só a sorte de eu ter achado um livro ideal para o que eu queria. Com este sugestivo título, este grande orientalista procura
identificar, ou melhor, indicar respostas para essa pergunta.

É impressionante como um credo surgido com Maomé se transformou em religião dominante em um antigo território pagão (Meca). A partir daí, o Islã vira o maior império sobre a Terra, referência nas artes, ciências e na liberdade dos súditos; domina o Egito, a Síria, a Península Ibérica e cerca Viena duas vezes. Poucos séculos após, viu-se talhado em diversos pedaços (Império Otomano), claudicante, ultrapassado pela “abominável” civilização cristã ocidental, hóspede de ditaduras e instituições retrógradas.

Durante muito tempo, os muçulmanos tentaram achar um culpado para o flagrante desnível que se observou entre o Ocidente e eles. Deram-se conta disso muito mais tarde do que deveriam, se quisessem ter estancado esse processo. Os primeiros suspeitos foram os Mongóis, invasores durante a Idade Média; depois, os europeus cristãos; os judeus; outras minorias do império; e, mais recentemente, os norte-americanos, imperialistas infiéis. Entendeu-se, porém, que a culpa não era dos “invasores”, estes só invadiam facilitados pela própria fragilidade do império. Fora disso, não se pode explicar o fato de bárbaros asiáticos, como os Mongóis, terem invadido o poderoso império dos califas no século XIII. Mudou-se, então, a perspectiva:

“Quando as coisas dão errado numa sociedade (...) várias perguntas podem ser feitas. Uma comum, particularmente na Europa continental ontem e no Oriente Médio hoje, é: `Quem nos fez isso?` A resposta a uma pergunta assim formulada é em geral pôr a culpa em bodes expiatórios externos ou internos – estrangeiros no exterior ou minorias no próprio país. Os otomanos, defrontados com a maior crise de sua história, fizeram uma pergunta diferente: `Que fizemos de errado?`”²

A corrida islâmica para se nivelar às potencias européias baseou-se num trinômio: militarismo, economia e política.

Na esfera militar, a tentativa de se modernizar se deu de tal forma que, por mais que tentasse, o Islã estava sempre defasado com relação ao Ocidente. A prova cabal da supremacia européia foi a tomada do Egito pelos revolucionários franceses, comandados ali por um jovem general chamado Napoleão Bonaparte. Anos depois, viram os franceses se retirarem de lá; porém, não por forças egípcias ou pelo turcos, mas pelo ingleses.
Economicamente, o Islã jamais conseguiu se industrializar e acompanhar a Revolução Industrial. Outrora, o Oriente foi a maior potência comercial da Terra. Entretanto, com a descoberta da rota para as Índias durante as Grandes Navegações, e a posterior colonização européia na região, amargou grande decadência. No século XX, o que se viu foi uma tentativa malograda de se instalar um socialismo (ressaibos da Revolução Russa) que só pareceu piorar tudo.

Na política, uma longa luta interna por liberdade (influências européias) terminou por gerar efeitos adversos: o império islâmico, durante a Idade Média o mais liberal de todos os que existiam sobre a Terra, passou a reprimir tais movimentos e espalhar tiranias esfarrapadas pela região. No livro, as questões do secularismo e do sexismo islâmicos são tratados de maneira muito interessante.

Fato curioso é que o livro já estava paginado quando dos ataques do 11 de setembro. Assim, fica claro que era algo que já podia ser vislumbrado. Nesse sentido, vejamos o que pensava Samuel Huntington, lembrado por Martin e Harald Schumann:

“Sua tese, segundo a qual os conflitos entre as civilizações serão determinados no futuro por razões de ordem religiosa e cultural, e não mais por razões sociais ou motivos políticos, como nos tempos da Guerra Fria, suscitou grande atenção(...) Temores muito antigos, de que a Europa seria esmagada por hunos, turcos ou russo, foram como que renovados por Huntington. Justificam-se? O Ocidente democrático colidirá com o restante do mundo, como prevê o estrategista de Harvard, com uma aliança de déspotas e teocratas, do tipo Saddam Hussein ou Aiatolá Khomeini, eventualmente apoiados pelos países asiáticos de salários rebaixados?”³

O impressionante é que esta tese data de 1993! Só faltou a citação do nome de Bin Laden. O Oriente colidiu (literalmente) com as Torres Gêmeas. Neste espírito, Lewis encerra o seu livro:

“A exposição mundial dada às idéias de Osama Bin Laden e seus hospedeiros, o Talibã, propiciou uma nova e vívida percepção da que foi outrora a mais esplêndida, mais avançada e mais aberta civilização da história da humanindade.
Se os povos do Oriente Médio continuarem em seu presente caminho, os homens-bomba podem se tornar uma metáfora para toda a região, e não haverá mais saída de uma espiral descendente de ódio e rancor, fúria e autocomiseração, culminando mais cedo ou mia tarde em mais uma dominação estrangeira (...) Se esses povos forem capazes de abandonar seu ressentimento e seu papel de vítimas, de resolver suas diferenças e unir seus talentos, energias e recursos num esforço criativo comum, poderão então tornar o Oriente Médio, na modernidade, tal como foi na Antigüidade e na Idade Média, um grande centro de civilização. Por enquanto, a escolha está em suas próprias mãos.” (P. 183-4)

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1 - LEWIS, Bernard; O QUE DEU ERRADO NO ORIENTE MÉDIO; Jorge Zahar Editor; 2002
2- idem, P. 30
3 - MARTIN, Hans-Peter e SCHUMANN, Harald; A Armadilha da Globalização; Editora Globo; 1998

Friday, December 09, 2005

O crepúsculo da andorinha

O céu arrebol de uma praia deserta


É o plano de fundo da trajetória incerta


De uma andorinha no meio do crepúsculo




UMA ANDORINHA SOZINHA




Que plana à procura de um verão...


Plana à procura de um porvir...


À procura... de um ponto de FUGA

Thursday, December 01, 2005

Seria alguma Lei de Murphy a Norma Fundamental Kelseniana??? OhOhoH

"As faltas que o juiz marca com certeza são exatamente as absolutamente erradas"¹



Post dedicado a Márcio Rezende de Freitas

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As 100 melhores Leis de Murphy, extraído do sítio www.humornaciencia.hpg.com.br