Wednesday, October 26, 2005

Da impossibilidade da solidão?

Eu













Comigo

Tuesday, October 18, 2005

Comédias de antanho (Bolhas Transitórias II)

Lembro que há uns quatro ou cinco anos o Canadá embargou a carne brasileira. O motivo alegado, se a memória não me é pérfida, foi haver focos de mal da vaca louca no Brasil (em verdade, havia disputas comerciais em jogo (Embraer X Bombardier)). Na época, eu e mais alguns colegas de sala íamos formar uma banda. Uma coisa meio punk-rock, sob a singela denominação "Cururus Tuberculosos". Eu aproveitei a querela e compus algumas músicas, dentre elas "Vaca Louca" e "Febre Aftosa", cuja letra segue:

"Que desatre! /
O Canadá não comprará mais nossa carne

´-Essa vaquinha é gostosa/
Mas tem Febre Aftosa!`"

Pena que a "Cururus Tuberculosos" não vingou! Observa-se que as músicas só se robusteceram no que pertine à atualidade delas com as superveniências do mundo bovino! Abraços aos outros "Cururus": Bonfim e Thiago "Jorge"! Quem sabe a gente não volta a formar a banda! OHoHOHOhoH

Bolhas Transitórias

Saturday, October 15, 2005

Inquietações II - Parte I

“Tudo começou ao terminar a primeira Grande Guerra. Ao regressarem à América, os soldados que combateram na Europa mostram-se exigentes, querem cerveja, uísque, rum, que sempre tiveram em abundância nos meses difíceis. (...) os empregados e os operários juntaram dólares de que querem agora gozar. E haverá melhor maneira de os gastar do que com jogo, mulheres e álcool? Por todos os lados, a partir de 1918, abrem "saloons"¹ e "speakeasies", onde se encontra tudo o que se deseja, desde que gaste sem contar. A polícia mostra tanto maior compreensão quanto mais generosos são os patrões das casas.
(...)
Há muito tempo, no entanto, que nos Estados unidos há movimentos e associações puritanas lutando encarniçadamente contra o alcoolismo. Já no primeiro quartel do século XIX apareceu a proibição nalguns Estados. (...) A maior parte dos estados proibicionistas inscreveu na própria constituição estadual, geralmente por meio de um referendum.

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1 “Saloon”, mistura de taberna e de casa de jogo, sempre com mulheres.” ¹


Quando comecei a ler o livro do qual extrai o excerto acima, vi que era uma boa oportunidade para explorar um pouco o assunto “referendo do dia 23” e, mais uma vez, apetecer meu sanguinolento e estrênuo intento de montar o que chamei de “teoria do poder dominante” (ver o post Inquietações I). Para tal, dar-me-ei a uma analogia histórica que julgo absolutamente pertinente.

A partir de 16 de Janeiro de 1920, pela emenda constitucional número dezoito, o álcool estava proibido nos Estados Unidos. Decorre dessa proibição o desencadeamento de um dos ciclos de crimes mais extraordinários jamais vistos na História. Surgiram as gangs de Chicago, cuja figura-mor foi Capone, o “Scarface”. Inúmeras fortunas foram feitas às sombras da proibição do álcool, porquanto a América não deixou de o consumir por causa disso. Como se não bastasse, ao álcool agregaram-se outras atividades como a prostituição, jogos de azar, etc. E uma questão passava a ser insistentemente feita: de onde promanava esse álcool? André Valmont responde que no contrabando e no fabrico em destilarias e cervejarias instaladas no próprio país.


Eis que se nos impõem um referendo, no qual deveremos responder se somos a favor ou contra a proibição da comercialização de armas de fogo no Brasil. Iremos às urnas dia 23.

Caso digamos “Sim”, temo pelo que poderá acontecer. Embora já seja temerosa a nossa atual situação de insegurança pública. A meu ver, ninguém que tenha vontade e disponha de dinheiro suficiente deixará de comprar uma arma, não obstante a proibição do comércio. Dar-se-á ensejo a um aumento vertiginoso do contrabando de armas e do fabrico em casas de armas clandestinas, tal qual se fazia com o álcool na América dos gângsteres. Poderemos fazer um Beira-Mar tornar-se um malfeitor da estirpe de Al Capone; poderemos fazer do Rio de Janeiro (a Cidade Maravilhosa!) uma Chicago dos Loucos Anos 20; poderemos fazer da Colômbia uma grande fornecedora de armas por nossas extensas fronteiras, da mesma maneira que o Canadá tornou-se um grande fornecedor de uísques aos Estados Unidos pelas imensas fronteiras ianques. Aliás, supor uma rede de comércio como esta não é absurdo: armas da Al Qaeda por cocaína das FARC; armas das FARC por dinheiro sujo do tráfico no Complexo do Alemão. E o Narcoterrorismo inflado com isso! Ao som do batidão carioca! Este, com função semelhante ao jazz, que encontrou solo fértil nos “saloons” de Chicago.

Caso digamos “Não”, não haverá alteração da situação atual. Ter-se-á gastado seis centenas de milhões de reais (corrijam-me se o número não for esse) para deixarmos legalizado o comércio, obviamente, para os idôneos. Pode parecer, para mentes mais incautas e extasiadas pela “campanha do sim”, uma temeridade, uma renúncia ao direito à vida; mas se me configura uma prudência necessária.


Mas, não fiquei circunscrito à massacrante pugna “campanha do sim” versus “campanha do não”. Pus-me a uma apreciação etiológica desse referendo e cheguei a conclusões insólitas.

A Lei Seca norte-americana deu mostras inequívocas de que o óbice legal ao consumo de um produto que, sabidamente, não deixará de ser consumido, não obstante o entrave normativo, traz conseqüências drásticas para a sociedade. Esta experiência deixou a lição de que se deve refletir diante de uma situação que toma proporções insustentáveis dentro da sociedade e que não se deve deixar levar a situação com automatismos intempestivos. Em nosso caso específico, a feitura uma regulamentação assisada, a qual determine quem pode ou não possuir, comprar e/ou portar armas, adjungida uma fiscalização eficiente que conferisse uma eficácia decente às normas, excluiria a necessidade de se proibir o comércio de armas.
Isso é tão óbvio que até eu percebi! ;]

(A propósito, interessante a lógica que se tem adotado aqui no Brasil: se temos problemas com armas de fogo, que se proíba o comércio delas; se o ensino Público não tem condições de concorrer com o Privado, que se forje a entrada de alunos da rede pública nas faculdades. Parte-se, assim, do mesmo princípio que manda você dar um tapa violento no aparelho televisor quando a imagem estiver ruim, ou desferir um chute voraz na CPU quando o computador travar. Este tema deverá ser tratado com mais vagar em posts pósteros).

Decorrem disso algumas questões: Por que motivo(s), ainda assim, far-se-á o referendo com tal questão? Aliás, por que um referendo?

Há algum tempo, sugeriu-se a realização de um referendo em que se decidisse pelo ingresso ou não do Brasil na ALCA. A eventual pergunta seria algo como: ”Você acha que o Brasil deve integrar a Área de Livre Comércio das Américas?”. Extrair-se-ia, então, por um escrutínio universal, a vontade da maioria dos cidadãos, a qual passaria a gozar de COMPLETA, INESCUSÁVEL e INVENCÍVEL tutela estatal, uma vez que caberá somente ao estado fazer cumprir a deliberação popular.
Porém, se supormos o “Sim” vencedor no referendo do dia 23, haveremos uma completa e inescusável, mas VENCÍVEL tutela estatal. Vencível pelo fato de o Estado, carente de ubiqüidade, não poder regulamentar as condutas humanas a todo instante, em todos os lugares. Significa dizer que há a possibilidade de se transgredir a norma oriunda do referendo que se aproxima! Eis um problema gravíssimo! Entendo que em todo e qualquer referendo as questões que tangem à exeqüibilidade da proteção do desígnio popular devem ser translúcidas. Se se é possível transgredir a vontade popular consagrada em um referendo, VILIPENDIA-SE a soberania popular! É RASGADO o artigo 14 de nossa Lei Fundamental!

Chegamos, finalmente, ao que considero ser o ponto alto desta Inquietação: qual o motivo de se levar adiante este referendo, a menoscabar, desta maneira, o abuso apontado acima?

Entendo que por trás da complexidade técnica que envolve a questão do referendo e da obscuridade acerca do cumprimento de uma eventual proibição, há, por parte das mentes que dominam, um interesse fuliginoso de desgraçar a manifestação da soberania popular por voto direto. Como? Um dia, pretenderão minar a soberania exercida diretamente com um discurso sofístico em que se pretenderá desgraçar esse exercício democrático pelo fato de haver sido relativamente INÓCUO no caso da proibição do comércio de armas. Ou seja, a partir da inexperiência do povo brasileiro nessas questões (afinal, não se está na Suíça) erigirão todo um sistema de repulsa à democracia exercida por sufrágio universal e direto.
Não divagarei acerca de interesses econômicos e/ou políticos, pois esses já permeiam coisas assim desde tempos imemoriais.

É o que vislumbro.


CONSIDERAÇÕES FINAIS:

I - Uma coisa está certa para mim: a discussão sobre se morrerá menos ou mais pessoas com a proibição é infinitamente menor que a discussão acerca das origens e motivos da realização desse referendo. Pensemos.
II - Votarei 3! (brincadeirinha) Mas se fosse possível me esquivar desta crudelíssima dicotomização (Sim;Não) e votar por uma regulamentação séria, como propus ao longo do post, adoraria. Por força das circunstâncias e da obrigatoriedade do voto, votarei 1.




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1 - VALMONT, André; A verdadeira história do banditismo - A América em face das gangs; São Paulo; Otto Pierre, Editores, Ltda.

Saturday, October 01, 2005

"20 por 80"

"O sonho dourado das elites se materializa num hotel de San Francisco, Califórnia. O Fairmont é ao mesmo tempo uma instituição e um ícone, um alojamento de luxo e um símbolo do prazer de viver. Quem o conhece chama-o respeitosamente de "The Fairmont". Quem pode hospedar-se nele venceu na vida.
(...)
Nesse ambiente carregado de História, em fins de setembro de 1995, um homem que também soube fazer História, Mikhail Gorbachev, recepcionou a elite do mundo. Mecenas americanos, gratos por sua atuação no desmonte da União Soviética, patrocinaram-lhe a sede local para a Fundação Gorbachev, ironicamente localizada no Presídio, instalação militar desativada depois do fim da Guerra Fria, ao sul da ponte Golden State. (...) O novo braintrust global, como o último presidente da União Soviética e ganhador do Prêmio Nobel definiu o conclave, deveria apontar caminhos para o século 21, "rumo a uma nova civilização".
(...)
Os pragmáticos reunidos no Fairmont resumem o futuro em um par de números e um neologismo: "20 por 80" e "tittytainment". Vinte por cento da população em condições de trabalhar no século 21 bastariam para manter o ritmo da economia mundial. (...) Um quinto de todos os candidatos a emprego daria conta de produzir todas as mercadorias e prestar todos os serviços qualificados que a sociedade mundial poderá demandar."¹


O exposto no excerto acima transcrito deste excelente livro de Hans-Peter Martin e Harald Schumann reforça uma idéia que há tempos permeia meus pensamentos: a de que o capital evolui para uma situação em que somente os grandes detentores de capital (megainvestidores, etc.) e a mão-de-obra absurdamente qualificada serão os vetores únicos de toda a motricidade da economia no decorrer do século XXI. Toda a evolução experimentada nos meios de comunicação, nos meios de produção, nos de transporte, etc., proporcionam esta previsão de aterradora hediondeza.
E como ficará a dinâmica social como um todo? Parece-me que a compleição da sociedde brasileira apresenta os sintomas da proposta sociedade "20 por 80": ricos em seus bastiões, em seus burgos, condomínios fechados de casas, etc.; ao passo que a "massa falida" luta para sobreviver em seus respectivos "bantustões". E a tal "massa falida" incorporará o que se hoje entende por classe média, cujos integrantes se acham, atualmente, mais próximos ascensão social que do descenso. Suprimir-se-á a classe média. Não haverá espaço para ela.
Como sustentar tamanha desigualdade? Recorramos ao livro citado acima:

"Ao contrário, corre solta a expresão "tittytainment", que o veterano da política internacional Zbigniew Brzezinski introduz no jogo. (...) "Tittytainment", segundo ele, é a combinação de entertainment (diversão, entretenimento e tyts (gíria americana para seios ou tetas). Ao cunhar a expressão, Brzezinski pensou menos em sexo e mais no leite da mãe que amamenta. Com uma mistura de diversão anestesiante e alimento suficiente - o "entretetanimento", numa tentativa de tradução -, a vasta legião de frustrados e excluídos poderia ser mantida satisfeita."²

Comida e Festa: Binômio da Pacificação Social, acobertadora de uma opressão poucas vezes vistas na História da Humanidade. É o que se propõe. É o que se pensa. É o que vislumbro, também.

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1 - MARTIN, Hans-Peter e SCHUMANN, Harald; A Armadilha da Globalização - O assalto à democracia e ao bem-estar social; São Paulo; 3º edição; Globo; 1998
2 - Idem.

(Este é um livro em que a Globalização é tratada por uma ótica muito interessante. Basicamente, os autores propõem a restauração da supremacia da política sobre a economia e uma fase social para dar uma sobrevida à democracia. Quem quiser conferir, pode-me pedir emprestado, depois ;])