Monday, April 17, 2006

Desculpe, eu sou burro! (Um prólogo a toda Filosofia da Burrice)

"Vive Deus, senhor Cavaleiro da Triste Figura! coisas diz Vossa Mercê que eu não posso levar à paciência; e por elas chego a imaginar que tudo o que me tem dito de cavalarias, de alcançar reinos e impérios, de dar ilhas e fazer outras mercês e grandezas, como é de uso de cavaleiros andantes, deve ser tudo coisas de vento e mentira, e tudo pastranha, ou patranha, ou como melhor se chama. Quem ouvir a Vossa Mercê dizer que uma bacia de barbeiro é o elmo de Mambrino, sem sair de semelhante despropósito por mais de quatro dias, que há de cuidar senão que a pessoa que tal diz e afirma tem o miolo furado? A bacia cá a levo eu no costal toda amolgada; e levo-a para arranjar em minha casa e fazer com ela a barba, se Deus me fizer tanta mercê, que me torne ainda a ver a minha mulher e filhos"
Eis que quando se achava já com o juízo inteiramente carcomido pelas novelas de cavalaria, tomado pelo nefelibatismo (rs), o engenhoso fidalgo Dom Quixote de la Mancha ouve estas de seu escudeiro.
Pança, enquanto não lhe foi pérfida a sanidade, conseguiu os mais excelsos escopos da Burrice que propomos e pela qual pugnamos: captar as obviedades mais pululantes que se hão de achar em toda a realidade, a despeito de todo tipo de absurdez intelectiva que se nos possa aparecer.
Uma Burrice pragmática, pois não, que renuncia, sempre que o é devido, à infinita capacidade de abstração intelectual humana com o intuito de, mui humildemente, prognosticar as coisas com o que há de mais réles no pensar. Sem mais.
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